O artigo parte do princípio que o Brasil não pode ser uma
democracia racial, uma vez que negros (particularmente) e índios foram
excluídos do processo histórico de desenvolvimento econômico e social do país,
tendo em vista que os primeiros vieram substituir os segundos dentro da
política de escravidão da época colonial. As grandes metrópoles da época como
Portugal estavam profundamente envolvidas com o comércio e tráfico de etnias
africanas visando à mão de obra barata para o sistema de cultivo instalado no
Novo Mundo (leia-se América, e no caso de Portugal, especificamente o Brasil).
Os
negros que posteriormente substituíram os índios como escravos no regime
produtivo colonial (após verdadeiro genocídio das etnias indígenas) eram
considerados pelos portugueses mais submissos que os nativos. Eram tratados
como inferiores, indignos de piedade, e por sua constituição natural feitos para o trabalho pesado e constante).
Quando
da abolição da escravatura no Brasil, já de forma tardia em relação à outras
nações americanas, não foi mais favorável aos negros escravos e seus
descendentes que continuaram a ser estigmatizados e excluídos. Tendo pouco ou
quase nenhum acesso à educação básica, sofreram até recentemente forte
discriminação em relação à sua capacidade cognitiva, embora reconhecidos por
sua constituição física vantajosa em relação aos brancos de origem europeia.
Uma vez
que toda a estrutura da sociedade pós colonial valorizava a “branquitude” como
positiva e evolutiva, reconhecendo essa superioridade como inconteste e aquela
que deveria promover o desenvolvimento efetivo da nação recém constituída,
negros e índios foram relegados à posição inferior no ranking social, tanto no
aspecto “racial” (no conceito que se tinha de raça à época) como no aspecto
econômico (da pobreza ou miséria, decorrente dessa própria visão de mundo e do
abandono e falta de políticas de inclusão).
Como a
autora bem o relata, houve uma tentativa de “branqueamento” das populações
nativas africanas e americanas através de uma visão de mundo onde de forma
violenta até se promovia a educação e a cultura das sociedades europeias, seus
valores e princípios, considerados como únicos e verdadeiros.
Os
negros e seus descendentes, particularmente no Brasil, foram particularmente
até fins do século XIX vítimas deste preconceito. Somente a partir de meados do
século XX começou a aparecer a ideia de diversidade como contraponto
reconhecendo a contribuição de diferentes culturas à majoritária europeia.
Mesmo assim, na forma legal, ainda transcorreu um certo tempo para o MEC
incluir o tema da pluralidade e diversidade de culturas no Brasil como aspecto
curricular na educação básica. Então, a partir de experiências pontuais aqui
e ali, o ensino da diversidade e da
cultura afro-brasileira passou a fazer parte cada vez mais dos currículos.
Confirma-se uma máxima já há muito tempo conhecida, a de que ensinar e aprender
decorre da convivência entre diferentes culturas e etnias; mas que esse
respeito não pode ser confundido com a tolerância, porque na tolerância
esconde-se uma forma branda de preconceito. O respeito caminha junto com a
confiança, e promovem a construção de uma sociedade plural e igualitaria.
Referência:
SILVA, Petronilha Beatriz Gonçalves e. Aprender, ensinar e
relações Aprender, ensinar e relações étnico-raciais no Brasil étnico-raciais
no Brasil.Porto Alegre/RS, ano XXX, n. 3 (63), p. 489-506, set./dez. 2007
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