Reflexão sobre os
grandes modelos pedagógicos e epistemológicos.
Lendo os textos pude traçar um paralelo entre o que vivi na
minha vida educacional, como aluna, e o que hoje vivo como educadora.
Como aluna, relembro de professores que passaram pela minha
vida, e que dentro de suas realidades me fizeram vivenciar ao menos dois dos
modelos apresentados no texto.
O professor diretivo
Um professor de matemática, que me fez por muito tempo odiar
esta matéria, que era o típico professor
da pedagogia diretiva. Em aula, silêncio total e só ele sabia , até
mesmo da maneira que ensinava, foi um ano em que todos rodaram em matemática.
A professora
relacional
E uma professora de história que era, mesmo sem saber, completamente relacional. Que me além de me fazer
amar história, me fez entender que sim é necessário saber datas e nomes, mas
que antes de tudo é necessário que se entenda o porquê disso. Fazia-nos
"viajar" em sala vislumbrando e "vendo" os acontecimentos
passados e os ligando ao nosso presente. Fazia-nos descobrir de maneira
investigativa, os fatos e acontecimentos históricos. Deixava-nos descobrir por
nós mesmos, sempre proporcionando novas e curiosas descobertas.
Penso que muito da dispersão encontrada em sala de aula nos
dias de hoje advém de professores com as
características das duas primeiras pedagogias apresentadas.
Pois reprimir, limitar, engessar alunos em sala de aula, nos
tempos de hoje é completamente irracional. Achar que, ainda hoje, uma criança é
completamente vazia, sem nenhum conhecimento prévio é negar a evolução do ser
humano, é negar que os meios midiáticos estão presentes e "ensinando"
nossas crianças. Pensar-se " dono do mundo" nas questões do saber, ou
de qualquer outra questão nos dias atuais é no mínimo "viver fora da casinha",
como dizem as crianças.
Esta ao que me parece é uma forma ditatorial, de ensinar. Ensinar?
Será que é possível aprender desta forma, ou aqui funciona a decoreba daquilo
que sabem ser o conhecimento necessário e o comportamento essencial para
"passar" com o professor diretivo.
Como crianças tratadas desta forma, não serão dispersivas?
Pode até no comportamento físico manterem-se dentro do "esperado",
quietas, caladas com seus corpos comportados na cadeira. Mas mentalmente serão
dispersivas, serão aquelas crianças que estão em corpo, mas não em mente dentro
da sala de aula. E no fim das contas, na hora das belas avaliações feitas por
este professor será aquela criança taxada de quietinha, comportada, mas que
"deve ter algum problema é super comportada, mas não consegue aprender
nada."
Por outro lado deixar que o aprendizado "role solto"
sem nenhum comprometimento com o aprendizado das crianças, que é na verdade o
que me parece acontecer na não ação do professor não diretivo, é também uma forma ditatorial de estabelecer
quem pode e quem não pode aprender. Parece-me
ser uma posição cômoda, para um professor não diretivo, deixar que as crianças
aprendam por si, dentro das suas perspectivas e necessidades. Mas ele não toma,
nem se importa em tomar conhecimento das perspectivas e necessidades destas
crianças.
Lembrei-me da postagem de uma colega, que apontou a fala de
outra professora na escola onde atua: "Deixa, no jardim ele aprende".
Pois é, me parece ser esta a típica fala de um professor não diretivo. Crianças
com maior dificuldade cognitiva ficarão
jogadas ao descaso? Uma criança que, em
casa, não tem, por exemplo, contato com
livros, continuará em sala de aula sem este conhecimento? Pois, se este professor
parte do princípio de que está ali só
para auxiliar o despertar conhecimentos já existentes e a vivência com livros
não existe, como ficam estas crianças?
E ai me vem também a fala de meu marido no início do ano
letivo: "Eles estão no quinto ano e não sabem ler, nem somar. Como isso é
possível?" E agora, o que responder, como equacionar esta questão? Estas
crianças vivem em um modelo - escola -
onde tiveram professores que ao longo dos anos exigiram silêncio e
atenção para repassar os seus conhecimentos e não conseguiram? Ou tiveram
professores que deixaram por conta deles, alunos, o aprendizado?
Estimular os conhecimentos existentes, despertar e auxiliar
a construção do conhecimento e da
aprendizagem pode às vezes parecer mais trabalhosa, para quem olha as ações de
um professor relacional, mas o resultado deste trabalho é com certeza mais
gratificante, quando se avalia o ser professor, o ser educador.
Importar-se, comprometer-se com o ensino e a aprendizagem,
penso que são as condições básicas para o professor relacionista. É aquele professor
que acredita no seu aluno, que auxilia o seu aprendizado, sabendo que aquilo
que o aluno traz consigo não é suficiente para seu aprendizado, que este
conhecimento trazido pelo aluno aliado ao conhecimento - conteúdo - que o professor
traz consigo é que fará com que o desenvolvimento deste aluno se complete.
Este é o professor que ensina e aprende. Que junto com seu
aluno faz descobertas que serão úteis aos dois; um, no construir do seu conhecimento e outro - o professor - no aprendizado
daquilo que seu aluno lhe ensinou e que mais tarde poderá ser usado no auxílio de
outro aluno.
Hoje vivemos na busca de uma escola, de forma completa, vivenciando
métodos globalizados e os enfoques globalizadores
buscando formar cidadãos que pensem, que revindiquem seus direitos, que tomem
consciência de seu lugar no mundo. Nesta escola, com certeza, só tem espaço
para professores que se envolvam e pratiquem no mínimo a pedagogia aqui
traduzida como pedagogia relacional.
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