domingo, 3 de dezembro de 2017

Por uma sociedade igualitária

                O artigo parte do princípio que o Brasil não pode ser uma democracia racial, uma vez que negros (particularmente) e índios foram excluídos do processo histórico de desenvolvimento econômico e social do país, tendo em vista que os primeiros vieram substituir os segundos dentro da política de escravidão da época colonial. As grandes metrópoles da época como Portugal estavam profundamente envolvidas com o comércio e tráfico de etnias africanas visando à mão de obra barata para o sistema de cultivo instalado no Novo Mundo (leia-se América, e no caso de Portugal, especificamente o Brasil).
                Os negros que posteriormente substituíram os índios como escravos no regime produtivo colonial (após verdadeiro genocídio das etnias indígenas) eram considerados pelos portugueses mais submissos que os nativos. Eram tratados como inferiores, indignos de piedade, e por sua constituição natural  feitos para o trabalho pesado e constante).
                Quando da abolição da escravatura no Brasil, já de forma tardia em relação à outras nações americanas, não foi mais favorável aos negros escravos e seus descendentes que continuaram a ser estigmatizados e excluídos. Tendo pouco ou quase nenhum acesso à educação básica, sofreram até recentemente forte discriminação em relação à sua capacidade cognitiva, embora reconhecidos por sua constituição física vantajosa em relação aos brancos de origem europeia.
                Uma vez que toda a estrutura da sociedade pós colonial valorizava a “branquitude” como positiva e evolutiva, reconhecendo essa superioridade como inconteste e aquela que deveria promover o desenvolvimento efetivo da nação recém constituída, negros e índios foram relegados à posição inferior no ranking social, tanto no aspecto “racial” (no conceito que se tinha de raça à época) como no aspecto econômico (da pobreza ou miséria, decorrente dessa própria visão de mundo e do abandono e falta de políticas de inclusão).
                Como a autora bem o relata, houve uma tentativa de “branqueamento” das populações nativas africanas e americanas através de uma visão de mundo onde de forma violenta até se promovia a educação e a cultura das sociedades europeias, seus valores e princípios, considerados como únicos e verdadeiros.
                Os negros e seus descendentes, particularmente no Brasil, foram particularmente até fins do século XIX vítimas deste preconceito. Somente a partir de meados do século XX começou a aparecer a ideia de diversidade como contraponto reconhecendo a contribuição de diferentes culturas à majoritária europeia. Mesmo assim, na forma legal, ainda transcorreu um certo tempo para o MEC incluir o tema da pluralidade e diversidade de culturas no Brasil como aspecto curricular na educação básica. Então, a partir de experiências pontuais aqui e  ali, o ensino da diversidade e da cultura afro-brasileira passou a fazer parte cada vez mais dos currículos. Confirma-se uma máxima já há muito tempo conhecida, a de que ensinar e aprender decorre da convivência entre diferentes culturas e etnias; mas que esse respeito não pode ser confundido com a tolerância, porque na tolerância esconde-se uma forma branda de preconceito. O respeito caminha junto com a confiança, e promovem a construção de uma sociedade plural e igualitaria.

Referência:


SILVA, Petronilha Beatriz Gonçalves e. Aprender, ensinar e relações Aprender, ensinar e relações étnico-raciais no Brasil étnico-raciais no Brasil.Porto Alegre/RS, ano XXX, n. 3 (63), p. 489-506, set./dez. 2007

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