quinta-feira, 31 de maio de 2018

reflexões, tecnologias


                     Quando pensamos em tecnologias, a primeira coisa que muitas vezes nos vem à cabeça são inovações tecnológicas de ponta, hi-tech, luzes e cores, nesta hora talvez nos esqueçamos de que inovar é, em primeiro lugar, pensar diferente.
                     Devemos entender a Inovação Pedagógica como a busca da reconfiguração de como se entende o conhecimento. Mas, para que esta inovação aconteça,  é necessário romper com as normas e padrões  até então estabelecidos no processo de ensino-aprendizagem, e para isso é preciso ações dentro de um contexto histórico e social.
                      
                            É preciso que os educadores revejam suas posturas e atitudes dentro deste processo; que haja uma democratização dentro de uma perspectiva conceitual e curricular, mas principalmente que a transformação na prática docente resulte na motivação para o crescimento social e intelectual de seus educandos e que desta forma estes, os educandos, tenham condições de agir por si sós na construção do seu aprendizado e da suas histórias.


                  Segundo Rays, o planejamento:

                                           “[...] é um momento do trabalho pedagógico necessário para o processo de                                                        escolarização, pois é a instância decisiva e de previsão da organização das
                                           situações didáticas para um grupo de alunos situados num determinado                                                            momento histórico, visando evidentemente a colaborar na formação de um                                                      determinado tipo de profissional”.

                As cinco fases do planejamento apontadas por Rays espelham esta integração entre o ato de educar e o ato político, pois iniciam com o conhecimento em primeiro lugar do espaço onde esta escola e estes alunos estão inseridos, passando pelo conhecimento de quem é este sujeito, seus interesses, suas necessidades e principalmente os saberes que já trazem consigo. A partir de todos estes dados estudados e avaliados é que o educador deverá partir para a busca dos objetivos em procedimentos do ensino-aprendizagem que realmente sejam significativos para seus educandos.          Desta forma a avaliação se tornará parte integrante de todo este processo e será um resultado que faça com que o educador possa avaliar não só o desenvolvimento dos seus alunos bem como a sua própria pratica.
               Destaques sobre os cinco pontos citados por Rays:
            “Escola e realidade social” - Penso que esta é a fase em que “mergulhamos” na comunidade a qual nossa escola pertence, é onde avaliamos todos os fatores que a formam, desde as questões socioeconômicas, passando por questões que dizem respeito às ideologias, à comunicação, etnias, classe sociais e econômicas, meios de produção e todos os outros fatores que nos conduzam à compreensão dos elementos que formam esta comunidade.
         “Retrato sociocultural do educando” - Neste momento avalio as conversas e observações feitas com cada um dos alunos em sala.
         “Objetivos de ensino-aprendizagem e conteúdos de ensino” - A partir da observação e conversa com cada um dos alunos e com o total deles observamos suas necessidades, suas curiosidades e aquilo que desperta suas curiosidades e necessidades.
          “Procedimentos de ensino-aprendizagem” - Dentro do que observamos e apuramos das e sobre as crianças traçamos as metodologias a serem trabalhadas e que desenvolvam as possibilidades de assimilação dos conteúdos apresentados.
         “Avaliação da aprendizagem” - Observação que faz com que reestruturemos nossa prática, com que avaliemos aquilo que nossos alunos aprenderam e apreenderam e que são capazes de tornar significativos para eles. Penso que o registro diário que fizemos nos dá a segurança de refletir e avaliar nossa prática e principalmente nos dá o panorama de que forma e com que significados nossos pequenos estão construindo suas aprendizagens.



Educar um ato político


             Muito se engana quem não acredita que o ato de educar é essencialmente político.
            Quando nos deparamos com o texto de Santomé, e este nos expõe a comparação sobre o compartilhamento dos saberes dentro das nossas instituições de ensino com os modelos de produção, podemos perceber que sim, o ato de ensinar é político e por tanto também nos cabe como educadores tomar posição sobre o que queremos para nossos alunos e também o que acreditamos ser verdadeiramente o nosso fazer pedagógico.
            Muitas vezes mudar as estruturas presentes em nossas escolas, como os currículos engessados, os conteúdos fragmentados, pode não ser fácil, mas merece uma boa luta. Penso que se dentro de nossa sala de aula mantivermos posições que transgridam este fazer sempre igual, se proporcionarmos a nossos alunos uma visão mais ampla, mais integrada e uma prática interdisciplinar poderemos de alguma forma conseguir vencer este “ranço” educacional que ainda insiste em se fazer presente em nossas escolas.
            Não resolve usar no discurso um ”palavreado” bonito e moderno, sobre a interdisciplinaridade, currículo integrado, qualidade de ensino, trabalho em equipe, se mantivermos na prática o “cola e copia” de um ano para o outro de textos e atividades, se ainda agirmos como se fossemos os únicos detentores de algum saber, se virarmos as costas aos anseios e curiosidades de nossos alunos, por que foge do planejamento e é preciso “vencer” a planilha de conteúdos. Não podemos ter em nosso discurso as belas frases como: ”Não, eu acredito que devemos fazer a diferença”!, “É preciso investimento na educação”, se na prática nos reunimos na sala de reuniões sem questionar, sem discutir com nossos pares, nossas ações pedagógicas, sem tentar mostrar que sim, estamos fazendo diferente em sala e estamos ali, sem medo, para dividir nossas experiências e buscar aliados pela causa. Se só participamos de formação continuada, quando estas existem, se houver convocação e a possibilidade de levar uma falta, se na prática nada estamos fazendo, quando no caso da Educação de Porto Alegre perdemos as 8 horas de formação mensal, que já eram poucas e agora temos no máximo 4 aos sábados ou 2 horas após o expediente.
            Se dentro de nossas escolas e salas de aulas conseguirmos fazer com que o diálogo entre professor x professor , professor x aluno, aluno x aluno, exista de fato poderemos, com certeza, fazer de nossa docência a diferença e também contribuir para que a autonomia de nossos alunos seja realmente concreta e eficaz proporcionando que a construção do seus conhecimentos e saberes corram paralelamente à construção da sua história e da sua visão de mundo.

terça-feira, 15 de maio de 2018

Um agradecimento pelo encantamento de ser aluna

Um agradecimento pelo encantamento de ser aluna

            O que me encanta em ser aluna é a certeza de que também tenho um bolso de avental para guardar meus tesouros.
            O que me encanta em ser aluna é poder saber que de alguma forma serei escutada, e que meus rabiscos serão entendidos.
            O que me encanta em ser aluna é saber que na hora da dor, alguém vai me olhar no olho e me fazer carinho.
            O que me encanta em ser aluna é ver que tem alguém está ali, me cuidando enquanto subo mais alto, e que se eu titubear vai me dar a mão.
            O que me encanta em ser aluna é ficar de olhos vidrados quando a “profi”, desfaz alguns nós, me mostrando que sim, é possível entender e com isso aprendemos juntas.
            O que me encanta enquanto aluna é ter a certeza que aquele olho brilhando, ali na minha frente, é de puro encantamento pelo que eu sou e por aquilo que me tornarei, através e a partir do seu cuidado, do seu carinho, da sua parada estratégica no planejamento, seja para satisfazer mais uma das minhas curiosidades, seja para me auxiliar a entender sobre um teórico, de escrita brilhante, mas onde eu ainda estou vendo alguns mistérios invioláveis.
            O que me encanta enquanto aluna é perceber que ler “milhões de páginas, por semana vai, um dia, fazer sentido".
O que me encanta em ser aluna é sentir que entre nós existe a linguagem.
            O que me encanta em ser aluna é saber que ela, sem medo, tem a certeza de que dar um ou dois passos para trás, para poder seguir em frente, tem o mínimo de certeza que desta vez vai...
            O que me encanta enquanto aluna é ter a certeza que, quando “crescer”, quero ser assim como ela:
            Apaixonada pelo seu fazer, eloquente em cada detalhe e sutil na hora da provocação.
            Firme, mas cuidadosa.
            Cuidadosa para que suas falas e fazeres sejam firmes e delicados para não deixar marcas rosadas de dor.
             O que me encanta em ser aluna é saber que: depois de 12 horas de trabalho, 1h 30min entrando e saindo de ônibus cheios, depois da janta e quem sabe uma taça de vinho; vou voltar encantada para as minhas leituras e escritas e em que, por honra, a ela irei me debruçar até ser vencida pelo sono, mas com a certeza de que vou fazer de tudo para retribuir os encantamentos que ela nos proporciona.
            Quero sim, tirar um A, não um A de aprovada com estrelinhas, mesmo que ainda goste muito das constelações, mas um enorme A de aprendiz.
            Obrigada, Aline Hernandez, por ser o alguém que, neste espaço, e de forma próxima auxilia o meu desenvolvimento, e principalmente o meu encantamento por ser aluna.
            Pode ser que muitas vezes não consiga expressar em preto e/no branco as aprendizagens que me ajudastes a construir; mas saiba que lá, onde importam, no chão da sala, elas farão a diferença e tornarão meus pequenos tão orgulhosos, como eu, pela “profi”, cujos olhos brilham de orgulho por seus alunos e por seu fazer.

quinta-feira, 10 de maio de 2018

Uma “tese” em defesa do encantamento de ser professora


            O que me emociona e me dá prazer enquanto professora é ficar ali paradinha observando meus alunos, com os quais tomei contato conhecendo primeiramente o bairro onde está minha escola; depois entrevistando as suas famílias e por fim olhando cada um no olho, convivendo, percebendo o que lhes é necessário, o que lhes dá prazer, como e do que gostam de brincar, o que já sabem deste mundo e projetando tudo aquilo que posso lhes apresentar de novo sobre este mundo.
            O que me emociona enquanto “profi” é ver olhinhos esbugalhados e curiosos ao assistirem um vídeo, uma contação de história; é o sorriso solto quando conseguem pela primeira vez subir e descer sozinhos no escorregador, é ver o rosto brilhando ao sol no degrau mais alto do trepa-trepa, mesmo que isso me dê calafrios na espinha. É ver o cuidado e o “real” sentimento quando fazem bolos de areia e dão uns aos outros para provar, ou os dão a suas bonecas. E aquele bolo de areia muda de gosto e sabor a cada colherada: vai do bolo de chocolate ao bolo de morango.
            O que me emociona enquanto professora é ver uns “rabiscos” serem identificados, com toda certeza, como: “Profi, olha meu nome!” Ou que um círculo “mal” traçado com riscos longos e curtos, desenhado em um canto da folha junto a tantos outros, desta vez vermelhos, seja a representação da cena: “Olha, eu, profi!”.
            O que me encanta enquanto professora é ouvir a cada dia a evolução do: “um, quatro, seis, dez” para “um, dois, três, cinco, dez” ou aquele sorriso ao apontar para o número desenhado no colchão seguido da frase: “Olha, profi esta é a minha cama, achei!”
            O que me encanta enquanto professora é levar para escola uma aula planejada nos mínimos detalhes com tudo aquilo que ontem os encantava e era tudo que queriam saber e descobrir, e ver este planejamento ir pra gaveta por que uma borboleta apareceu no pátio e toda turma saiu correndo atrás do pobre bichinho, até que um conseguiu pegá-la, trancando-a dentro de um pote de sorvete. E a partir daquele momento é ela tudo que importa “no mundo”. E tu tens que tirar da cartola mágica, do ser professora, tudo aquilo que tu sabes sobre este inseto, para aplacar as milhões de perguntas que surgem; e para convencê-los que o pobre inseto precisa ser solto para voltar para sua família.
            E para que tudo se resolva sem mágoas, ou sentimento de perda... Tu corres, com os 25, para a biblioteca e vamos todos juntos procurar  saber tudo sobre borboletas.
            E estes minutos de pátio rendem uma semana entre: pesquisas, desenhos, massinha de modelar e na história de uma tal lagarta comilona que ao final do livro se transforma em borboleta e melhor ela voa...assim como a borboleta que recortaram e pintaram e a “profi” colou no palito, com cola quente.
            O que me encanta enquanto professora é ver um aluno com autismo interagindo com os colegas, a ponto de pegá-los pela mão e indicar que quer jogar bola, ou simplesmente para ficarem sentados lado a lado no pátio jogando areia para cima.
            O que me encanta enquanto professora é andar com o bolso do avental cheio de brinquedos e lápis de cor, que foram esquecidos fora do lugar, misturados a papel higiênico, claro, já usado. É saber que este bolso é considerado um porto seguro para aquele bico, aquele paninho da chegada e que assim como foi parar ali será resgatado na  hora do sono.
            O que me encanta enquanto professora é ver duas crianças disputando um brinquedo brigarem, e eu me abaixar ao lado das duas, ter uma conversa olho no olho e vê-las saindo abraçadas,  uma enxugando as lágrimas da outra e acarinhando onde dois segundos atrás uma pequena mão ficou marcada em um leve rosado de dor.
            O que me encanta enquanto professora é tão simples: é ver a alegria das descobertas, é poder responder perguntas curiosas, é ouvir de repente um verbo conjugado no passado, é um “eu fazi” que, mais dia menos dia, vai se transformar em um “eu fiz”. É ter a certeza que aqueles  riscos saindo de um “redondulo”, de muitas folhas de rascunho levadas para a escola na mochila da profi,  um dia ou outro vão se transformar, vão se desenvolver e vão se tornar uma figura humana carregada de intenções, delineada com cores vivas e sabidas, que terão olhos, nariz e boca.
            O que me encanta enquanto professora é saber que a cada dia eles vão subir mais alto no trepa-trepa e que mais profundamente vão ter suas curiosidades sanadas e que de alguma forma eu contribui para isso, mas  o que eu gosto mesmo é de ser encantada pela certeza de que muitas outras curiosidades e dúvidas vão surgir e que, principalmente, eu colaborei para que isso aconteça.