domingo, 25 de dezembro de 2016

Quantidade X Qualidade

        Muitas vezes nos pegamos discutindo as questões de currículos sem significado, de avaliações que não envolvem o todo do aprendizado de nossos alunos.
       Onde está o erro, onde fica o acerto?
       Cobramos que nossos alunos tenham mais interesse em aulas "chatas", sem vida, baseadas na decoreba e que muitas vezes nem sequer cogitam a possibilidade de aproximação com as suas realidades.
        Exigimos quantidade, mas e a qualidade?
        Muitos alunos ao se depararem com a escrita de uma redação, a primeira pergunta é: "Quantas linhas profê?"
        Sim, pergunta sem sentido, não? Mas foi isso que lhes ensinamos, afinal foi o que e  como aprendemos: redações com o mínimo de linhas!
        Avaliações quantitativas, sejam nas redações, nas provas "de marcar X" ou nas grandes questões dissertativas, bem elaboradas.
        No caso das redações, é claro que buscamos qualidade da escrita, mas cá para nós... é preciso as 30 linhas?
        Se esta quantidade ultrapassar vamos cobrar poder de síntese? Se ficar aquém, vamos exigir mais argumentos?
         Ou vamos nos deter na qualidade da escrita e esquecer a quantidade de linhas?

         
Ok. Que sejam as 30 linhas, mas já vou avisando posso dizer com coerência e sentido em muito menos linhas, assim como posso escrever o dobro, mantendo a mesma qualidade.

Discutindo projetos e brincar

       “No curso da elaboração dos projetos, é sempre importante a capacidade de expressar hipóteses de trabalho que deem sentido e continuidade ao percurso da experiência proposta às crianças”, quando ressalta este ponto  FORTUNATI (2009), nos alerta para a criação de hipóteses de trabalho que permitam a participação das crianças nestes projetos, e isso se dá a partir do momento em que valorizamos e compreendemos o que e como pensam as crianças.
      Cabe a nós professores  elaborar projetos aonde as crianças sejam realmente protagonistas  de experiências significativas ao seu desenvolvimento. È preciso que nossos projetos nasçam da curiosidade de nossos pequenos questionadores, que realmente desenvolvamos propostas de experiências que tragam a eles significado, respostas e novos questionamentos, permitindo assim que desenvolvam suas aprendizagens de forma alegre e divertida.
      Não é mais o momento de projetos engessados e estanques, como aqueles que encontramos , infelizmente, em algumas escolas infantis, onde o que menos se leva em conta é a crianças, seu pensar e suas necessidades. Onde as ações são planejadas de modo separado, sem interconexões e onde  o brincar é ressaltado, não como uma forma de aprendizado, mas sim como uma forma de manter as crianças “intertidas” durante as longas horas passadas dentro da escola de educação infantil.
     É hora de pensarmos em projetos, em experiências que reconheçam a competência, a curiosidade, o poder criativo e construtivo de nossos pequenos.


(FORTUNATI, Aldo. A Educação infantil como projeto da comunidade: crianças, educadores e pais nos novos serviços para a infância e a família: a experiências de San Miniato. Porto Alegre: Artmed, 2009.)

A pedagogia da escuta

        O trabalho realizado em Reggio Emilia, há tempos tem servido como exemplo ou base de estudos para a Educação Infantil no Brasil e no Mundo.  
        Em um de nossos estudos, discutimos a  importância da pedagogia da escuta sobre a perspectiva de Reggio. Todos os escritos nos levam a perceber a grande importância que esta escola dá ao ato da escuta como busca do dar significado não só no que fazem, encontram e vivenciam tanto as crianças como os professores e adultos que com elas convivem dentro da escola.
       Esta escuta abre as possibilidades de nos revelar como as crianças pensam, interpretam e questionam a suas realidades além de promover e permitir o diálogo e a comunicação o que envolve as teorias criadas a partir desta significação e desta compreensão de mundo.
        Destacamos aqui algumas características desta escuta:
     ·  Ser sensível e aberta à necessidade de ouvir e ser ouvido;
     ·  Escutar com todos os nossos sentidos;
     ·  Reconhecer as muitas linguagens;
     ·  A escuta precisa de tempo, um tempo diferente do cronológico:
     ·  Ela é gerada pela curiosidade, desejo, dúvidas e incertezas, produzindo perguntas e não respostas;
     ·  Valorização de quem é escutado;
     ·  Remove o indivíduo do anonimato.
       Quando se escuta e é escutado,  abrimos a possibilidade do diálogo e com este processo aprendemos como outro. As crianças, tanto de forma individual como quando em grupo, fazem isso de uma forma natural.
       E são nestes momentos que o professor deve estar atento e ouvinte deste processo de aprendizagem. E para poder fazer o registro destes processos o professor também deve estar aberto e sensível. E dentro deste apoiar e mediar  as crianças que, se soubermos observar e documentar estas escutas, poderemos  revendo esta documentação – esta escuta visível, dar significado ao nosso ensino, (re)ver nossas práticas diárias e desenvolver assim possibilidades para que nossas crianças questionem, se mostrem curiosas e criadoras de suas teorias desenvolvendo ainda mais suas aprendizagens. Como no diz RINALDI: “ Quando os professores tornam a escuta e a documentação peças centrais de sua pratica, eles se transformam em pesquisadores.” ( RINALDI, p. 245)
      Para ter um maior aprofundamento sobre a pedagogia da escuta, indico para quem ainda não leu: As cem linguagens da criança. Um bom livro para as férias.


EDWARDS, GANDINI & FORMAN (orgs.)  As cem linguagens da criança.

O meio


        Em outra roda de discussões, no nosso grupo de estudos, o assunto foi:  o conceito de meio. Para chegar a um conceito de meio combatível à nossa perspectiva a respeito do processo de desenvolvimento humano foram estudadas a ideia de três autores: Wallon, Bronfenbrenner e Rossetti-Ferreira.
       Wallon -  Diferentes meios: ambiente, espaço de ação, recurso ou instrumento de desenvolvimento. Wallon nos fala das relações entre os dois meios especificados e as transformações nos recursos da criança ao longo do seu desenvolvimento. Com isso fica  Wallon nos faz perceber que  os meios não são somente específicos de cada espécie, mas também específicos de  estados afetivos e de motivações da criança em cada idade ou fase do desenvolvimento.
       A pedagogia, por exemplo, empregada na organização destes meios físicos pode modificar o meio como recurso para a criança.
      Bronfenbrenner -  O conceito de Ecologia do desenvolvimento Humano, desenvolvido por Bronfenbrenner, nos fala  em um modelo de estruturas aninhadas, interdependentes e em recíproca interação. Um bom exemplo que nos deixa visualizar estas estruturas  são as bonecas Matrioskas, onde uma está contida dentro da outra da menor que representa o microssistema, as relações diárias, uma maior que representa o mesossistema, identificando as relações entre os microssistemas, estas duas dentro de outra maior como representante do exossistema - que são as estruturas sociais particulares, formais ou informais, e todas estas dentro de uma última que representa o macrossistema representando os padrões institucionais existentes nas culturas como: economia, educação, política, etc.
       Rossetti-Ferreira - aqui temos a Rede de Significações como uma ferramenta de investigação e compreensão aos processos de desenvolvimento humano. A RESSIG considera as diferentes relações das pessoas com seus meios e as questões que orientam essa análise: A  família, a escola e o trabalho dos pais; constituídos e sendo constituídos por vários campos interativos. Os processos interativos que ocorrem entre as pessoas são assinalados por componentes individuais  dentro de uma matriz sócio-histórica que  possibilita interações  que os indivíduos estabelecem. O relacionamento dinâmico entre a matriz e os componentes individuais, campos interativos e contextos proporcionam a rede de significações que constituem o contexto e o meio do desenvolvimento humano.
      Entre estas três perspectivas há pontos comuns e divergências, mas todas fazem relação entre os seres vivos e seus meios; os convido à leitura deste texto, que com certeza pode trazer novas perspectivas do nosso fazer pedagógico  tendo por base as  relações entre o  meio e o desenvolvimento humano.


(CARVALHO, Ana M.A. PEDROSA Maria Isabel: ROSSETTI-FERREIRA, Maria Clotilde. Aprendendo com a criança de zero a seis anos. São Paulo: Cortez, 2012.)

sábado, 17 de dezembro de 2016

Estudando Malaguzzi


Estudando Malaguzzi!





     Em um grupo de estudos denominado: revisitando  a escola das infâncias, neste mês de novembro, discutimos bons textos referentes à educação infantil.
Podemos, ao mesmo tempo, debater sobre nossas realidades, observar bons exemplos de como se pode realizar bem nosso trabalho e cá para nós, alguns de como ou do que não fazer...
    O primeiro texto discutido foi: Malaguzzi e os professores * , um bom texto que pode nos orientar na realização no nosso trabalho diário, na busca constante por propostas que levem nossas crianças a um aprendizado significativo.
    Nele também há referências ao diálogo entre nossos pares, na sua importância para este fazer pedagógico carregado de significações.
    Este texto nos  fez refletir sobre o papel do professor da educação infantil. Sobre a importância de dar destaque ao conhecimento que a criança traz para a escola e sobre a relação entre teoria e prática.
    Em nossas discussões, confirmamos a reciprocidade entre a teoria e a prática, o valor dos estudos pedagógicos na realização das práticas e a  importância dos registros destas práticas, que automaticamente se transformam em novas teoria, onde (re) visitados nos permitem rever e analisar  os  nossos feitos e os das crianças, criando um diálogo permanente entre teoria e prática.



* Carla Rinaldi. Diálogos com Reggio Emilia : escutar, investigar e aprender. São Paulo: Paz e Terra , 2012 -  p.103-115)


O prazer das primeiras escritas


O prazer das primeiras escritas

                Pela primeira vez acompanho uma turma de Jardim B e toda a construção do seu aprendizado. Foi muito legal observar o crescimento das crianças neste ano. Principalmente a alegria de terem alcançado seu maior desejo no início do ano: Aprender a escrever. Pois na minha turma este era o pensamento da maioria: aprender  a escrever para ir para o primeiro ano e lá aprender "escrever emendado".
                Tenho uma turma onde algumas crianças estão na fase pré-alfabética e ao menos duas já estão na fase alfabética. Já se arriscando na escrita não só de palavras como de pequenas frases.
                É muito bom participar do interesse e da curiosidade deles nestas descobertas. No início do ano vinham me pedir: "Profê, escreve aí como se escreve... pra eu escrever também!" E faceiros exibiam as letras espelhadas, fora de ordem, trocadas mesmo a partir da cópia.
                Hoje ao final do ano buscam o alfabeto móvel, espalham na mesa, montam suas palavras e me pedem:
                - "Profê, tá certo!" em outras vezes como, por exemplo, o dia que T. me pediu:
                -  "Profê, escreve pra mim: Profe Regi este castelo é pra ti". E eu respondi escreve você!
                - "Mas eu não sei"!
                - Sabe sim, pegue o alfabeto móvel e escreva com ele antes de passar para o papel.
                E tempo depois solicita minha presença. Na mesa as peças distribuídas se apresentavam assim:  PROFE REGINE STE CSTELO E PA TI!
                No momento que escrevo este texto me recordo de uma entrevista da Professora Magda Soares, onde ela fala sobre a questão do alfabetizar letrando,  desde a Educação Infantil,  onde  cita a importância do aprender a ler, lendo e do aprender a escrever, escrevendo. Além do respeito e do olhar cuidadoso que se  deve ter pelo momento de desenvolvimento  da criança, pelo seu desejo de aprender.


Uma despedida!

Carta de uma professora  na formatura de sua primeira turma de JB2

            Ser professora é ensinar e aprender.
            Só se ensina uma criança, quando se está aberto para aprender com ela.
            Como professora e aprendiz  algumas  vezes tive medo de estar errando,  em  muitas outras tive a certeza de estar fazendo a coisa certa.
            Já me chamaram de:  mãe, de vó, de pai, de dinda, de "pofi",  de Jaque, de "cofê", de "profê", de Jaqueline Lemos...
            Já  ajudei  a guardar  o bico para ser trocado por presente de Papai Noel...
            Já cuidei de um dente caído para ser entregue a Fada do Dente...
            Já coloquei  gelo  nas pernas, nos braços, na cabeça, nas costas de alguém que escorregou e caiu;  que se bateu com o amigo enquanto corria no pátio...
            Já limpei boca pintada de batom, catei piolho, ajudei a amarrar os  tênis, a fechar o zíper  da mochila, a soltar o botão da calça, a dobrar os casacos...
            Já ajudei a fazer um desenho para levar "pra mãe", "pra mana", "pro pai", "pro tio"...
            Já  enchi, em casa,  uma caixa com desenhos onde aparecia magrinha,  de cabelos vermelhos e os olhos redondos tomando conta do rosto...
            Algumas vezes chorei  de preocupação,  em outras de emoção com um: "Profê, eu te amo"!
            Mas, com certeza sorri  muito mais e se hoje eu chorei saiba que foi de pura alegria, por ter encerrado um ciclo.
            Tenho a certeza que consegui fazer com que você tenha feito muitas e importantes descobertas e que contribuí para o aumento do seu conhecimento  e na manutenção da sua curiosidade sobre tudo
            E tenha a certeza que você me ensinou.
             Aprendi  que nem sempre um choro na porta queria dizer que você não queria ficar ao meu lado na escola, mas  sim que você só queria um pouquinho mais do colo da mãe da vó, do pai; só mais um pouquinho na cama quente.
            Que quando eu chamei  para uma experiência nova, e você se recusou, não era por que eu não tinha feito um bom planejamento, mas por que ficar montando Legos ou brincando com as bonecas, naquele momento, era muito mais importante. Quer saber um segredo: Eu também achava!
            Agora você segue seu caminho, novas aprendizagens, novas descobertas, nova  escola, nova professora. Mas não se esqueça:  mantenha sempre o desejo de aprender cada vez mais, e ensine a sua nova professora como é bom ser amada.