quinta-feira, 10 de maio de 2018

Uma “tese” em defesa do encantamento de ser professora


            O que me emociona e me dá prazer enquanto professora é ficar ali paradinha observando meus alunos, com os quais tomei contato conhecendo primeiramente o bairro onde está minha escola; depois entrevistando as suas famílias e por fim olhando cada um no olho, convivendo, percebendo o que lhes é necessário, o que lhes dá prazer, como e do que gostam de brincar, o que já sabem deste mundo e projetando tudo aquilo que posso lhes apresentar de novo sobre este mundo.
            O que me emociona enquanto “profi” é ver olhinhos esbugalhados e curiosos ao assistirem um vídeo, uma contação de história; é o sorriso solto quando conseguem pela primeira vez subir e descer sozinhos no escorregador, é ver o rosto brilhando ao sol no degrau mais alto do trepa-trepa, mesmo que isso me dê calafrios na espinha. É ver o cuidado e o “real” sentimento quando fazem bolos de areia e dão uns aos outros para provar, ou os dão a suas bonecas. E aquele bolo de areia muda de gosto e sabor a cada colherada: vai do bolo de chocolate ao bolo de morango.
            O que me emociona enquanto professora é ver uns “rabiscos” serem identificados, com toda certeza, como: “Profi, olha meu nome!” Ou que um círculo “mal” traçado com riscos longos e curtos, desenhado em um canto da folha junto a tantos outros, desta vez vermelhos, seja a representação da cena: “Olha, eu, profi!”.
            O que me encanta enquanto professora é ouvir a cada dia a evolução do: “um, quatro, seis, dez” para “um, dois, três, cinco, dez” ou aquele sorriso ao apontar para o número desenhado no colchão seguido da frase: “Olha, profi esta é a minha cama, achei!”
            O que me encanta enquanto professora é levar para escola uma aula planejada nos mínimos detalhes com tudo aquilo que ontem os encantava e era tudo que queriam saber e descobrir, e ver este planejamento ir pra gaveta por que uma borboleta apareceu no pátio e toda turma saiu correndo atrás do pobre bichinho, até que um conseguiu pegá-la, trancando-a dentro de um pote de sorvete. E a partir daquele momento é ela tudo que importa “no mundo”. E tu tens que tirar da cartola mágica, do ser professora, tudo aquilo que tu sabes sobre este inseto, para aplacar as milhões de perguntas que surgem; e para convencê-los que o pobre inseto precisa ser solto para voltar para sua família.
            E para que tudo se resolva sem mágoas, ou sentimento de perda... Tu corres, com os 25, para a biblioteca e vamos todos juntos procurar  saber tudo sobre borboletas.
            E estes minutos de pátio rendem uma semana entre: pesquisas, desenhos, massinha de modelar e na história de uma tal lagarta comilona que ao final do livro se transforma em borboleta e melhor ela voa...assim como a borboleta que recortaram e pintaram e a “profi” colou no palito, com cola quente.
            O que me encanta enquanto professora é ver um aluno com autismo interagindo com os colegas, a ponto de pegá-los pela mão e indicar que quer jogar bola, ou simplesmente para ficarem sentados lado a lado no pátio jogando areia para cima.
            O que me encanta enquanto professora é andar com o bolso do avental cheio de brinquedos e lápis de cor, que foram esquecidos fora do lugar, misturados a papel higiênico, claro, já usado. É saber que este bolso é considerado um porto seguro para aquele bico, aquele paninho da chegada e que assim como foi parar ali será resgatado na  hora do sono.
            O que me encanta enquanto professora é ver duas crianças disputando um brinquedo brigarem, e eu me abaixar ao lado das duas, ter uma conversa olho no olho e vê-las saindo abraçadas,  uma enxugando as lágrimas da outra e acarinhando onde dois segundos atrás uma pequena mão ficou marcada em um leve rosado de dor.
            O que me encanta enquanto professora é tão simples: é ver a alegria das descobertas, é poder responder perguntas curiosas, é ouvir de repente um verbo conjugado no passado, é um “eu fazi” que, mais dia menos dia, vai se transformar em um “eu fiz”. É ter a certeza que aqueles  riscos saindo de um “redondulo”, de muitas folhas de rascunho levadas para a escola na mochila da profi,  um dia ou outro vão se transformar, vão se desenvolver e vão se tornar uma figura humana carregada de intenções, delineada com cores vivas e sabidas, que terão olhos, nariz e boca.
            O que me encanta enquanto professora é saber que a cada dia eles vão subir mais alto no trepa-trepa e que mais profundamente vão ter suas curiosidades sanadas e que de alguma forma eu contribui para isso, mas  o que eu gosto mesmo é de ser encantada pela certeza de que muitas outras curiosidades e dúvidas vão surgir e que, principalmente, eu colaborei para que isso aconteça.

















Um comentário:

  1. Que bom ler tanto amor pela profissão. Certamente há muito o que te move, inclusive para estar sempre se atualizando, se formando e ressignificando as práticas. Bom ver teu crescimento ao longo do curso!

    Att,
    Katielle de Oliveira
    Tutora de Seminário Integrador- Eixo VII- Turma E

    ResponderExcluir